DALADIER
PESSOA CUNHA LIMA - REITOR DA FARN
Pedro Rebouças de Moura escreveu suas memórias, as
quais envolvem o longo período de pároco em Nova Cruz – RN, bem como os íntimos
conflitos vividos na fase de retorno ao estado laico. Ivonete da Silva, viúva
de Pedro Moura, entregou esse acervo ao Dr. João Agripino da Silva, que, em boa
hora, resolveu publicá-lo, com alguns adicionais. O organizador da obra,
paraibano de nascença e nova-cruzense de coração, presta mais outro bom serviço
à terra que adotou como sua, com este trabalho memorialístico, de valor não
somente para a cidade–polo do agreste potiguar, mas também para a história da
Igreja Católica do Rio Grande do Norte. Ele percebeu a falta de merecidas
honras ao Monsenhor Pedro Rebouças de Moura, vigário de Nova Cruz de 1939 a
1968, o maior benfeitor dessa cidade em todos os tempos.
Meus pais, Diógenes e Eunice, foram grandes amigos
do Padre Pedro Moura, depois elevado ao título de Monsenhor. Os dois sempre
estavam presentes nas ações da paróquia: minha mãe mais voltada para as lides
pastorais, enquanto meu pai dava total apoio às demandas sociais. As missas dos
domingos, rezadas em Latim, eram motivos para o encontro dos paroquianos na
Matriz, às nove horas da manhã. Se o virtuoso pároco foi um pregador um tanto
prolixo, era prático, objetivo, rápido mesmo, na difusão e na concretização de
obras sociais. Pelos vínculos de afeto com o Padre Pedro e com a vida da Igreja
Católica em Nova Cruz, toda a minha família manteve fortes convicções da fé
cristã, as quais perduram ao longo do tempo. Fui coroinha e quase fui levado ao
mundo eclesial, mas, logo cedo, percebi que essa não era a minha vocação.
Concluí o curso médico em 1965, e, no ano
seguinte, recebi convite do Monsenhor Moura para visitar o Hospital Imaculada
Conceição, que ele construía em Nova Cruz. Na visita, ficou acertado o início
de um ambulatório de clínica-geral, na parte térrea do prédio, já pronta e em
condições para tal prática. Como não havia equipamentos para o consultório
médico, meu pai fez doação ao Hospital de todo o material necessário. Portanto,
durante vários meses, nos fins de semana, trabalhei naquela unidade, o que me
deu o honroso ensejo de ser o primeiro médico do agora denominado, com toda
justiça, Hospital Regional Monsenhor Pedro Moura.
São por demais valiosas e instigantes as memórias
de Pedro Rebouças de Moura, digno sacerdote do clero norte-rio-grandense, que
tantos e tão úteis serviços prestou à região agreste do Estado, no plano
evangelizador e no âmbito da promoção humana. O presente autorretrato mostra o
perfil humilde do autor, porquanto quase somente enumera a criação de
benfeitorias de alta significância para a comunidade, tais como colégios,
hospital, institutos de proteção à infância e à velhice, sindicato rural,
creches, cinemas, cooperativas, irmandades, igrejas, além de muitas outras
obras de cunho espiritual e de interesse social. Ressalte-se que o relato do
prelado, com ênfase, volta o foco para o dilema do celibato sacerdotal. Antes
de receber a secularização, Padre Pedro Moura escreveu: “Assim, se dou graças a
Deus porque até hoje jamais mantive intimidades ou relações sexuais com moças e
mulheres, confesso, todavia, a minha facilidade quanto às afeições ao amor
humano, e a grande luta para evitar problemas nesse sentido.”
Esta obra contém testemunho veraz de um padre que
amou o sacerdócio mas também sonhou com uma mulher, pois queria se completar
nessa destinação óbvia dos filhos do Criador; e que viu o casamento como “um
direito natural, divino, dom de Deus a toda criatura”.
* Apresentação do livro O Nova-cruzense do Século
XX, que será lançado dia 31/05/2010, em Nova
Cruz-RN.
FONTE – TRIBUNA DO NORTE